Tinha gastado meu último tostão na pedra, estava duro, sem
dinheiro para o cigarro, meu vício, vontade, instiga, seja lá como preferir
estava me matando.
Havia algum tempo que eu tinha voltado da cidade grande,
eu era um filho de um homem do campo, tinha ido estudar, e por fim aprendi
coisas demais nessa mudança. Tinha que dar um jeito, tinha que fumar a minha
pedra!
Andei pela casa olhando em todos os cantos, chegando à
sala, uma ânfora, branca com flores azuis, lírios, tentando dar um toque de
alegria àquele objeto fúnebre. Dentro dela, as cinzas de meu avô, pobre homem.
Eu tremia, mais parecia que tinha Parkinson. Peguei um punhado, pus em cima da
minha lata já previamente preparada, latinha de Fanta uva, alguém a jogou na
calçada. Coloquei a pedra em cima, me agachei no chão, e risquei o isqueiro. Dei
à primeira "bola", prensei, joguei tudo pra mente, fiquei em êxtase
durante os segundos que eu prenso a fumaça, soltei-a e volta a bater a crise,
derreto tudo sobre o alumínio. Até que acaba, o cérebro reage de forma
agressiva. Eu ansiava mais!
Busquei pela casa, revirei os cômodos "onde? onde
tinha mais?", "onde tem dinheiro pra eu comprar mais?”.
Fui à cozinha e pego uma faca no balcão da pia. Chutei
desesperadamente a porta do quarto dos meus pais. Esfaqueei o meu pai enquanto
ele dormia, e eu gritava feito louco:
"Me dá dinheiro filho da puta!"
Minha mãe saltou da cama repentinamente com os olhos
arregalados, olhou-me por alguns segundos também antes de eu enfiar-lhe a faca seis
vezes na garganta, retalhou o que tinha de carne em seu pescoço fazendo jorrar
sangue a 2 metros de altura. Os policiais ficaram horrorizados com o estado que
ficou o rosto dela também. O quadro na parede sobre a cabeceira da cama ficou
manchado de escarlate. Os anjos do referido pareciam estar chorando sangue, ou
que tinham acabado de sair de um matadouro, havia sangue escorrendo em suas
faces.
Com a gritaria meu irmão menor acordou, ficou assustado e
atordoado com os gritos de seus protetores, fui ao seu encontro no quarto,
pobre criança, meros sete anos de idade. Passei a faca lenta e friamente em um
movimento retilíneo que foi da boca à proximidade dos seus miúdos olhos,
devagar, sem feri-lo, somente para sentir a sua carne tenra na ponta da faca.
Quanto mais eu me aproximava dos olhos, mais eles se abriam
sinal do horror na criança,
Desci novamente, bem lentamente, cheguei até a boca,
lábios finos e rosados. Bati com a faca em seus dentes, ele havia perdido há
poucos dias os incisivos superiores, fui introduzindo a faca em sua boca, sem o
mínimo sinal de compaixão, o fio afiado não encontrou dificuldades pra ir
cortando a sua gengiva, eu via o terror em sua expressão, e ele foi tentar
gritar, pobre infeliz, num ato desesperador de pedir socorro, mal o sabia, que
a sua pequena língua empurraria mais ainda a lâmina, cravando-lhe na gengiva e
saindo mais sangue.
Aquela mistura sublime e infernal do grito e choro de
criança, com saliva, sangue e lágrimas.
Puxei a faca um pouco para fora, virei-a e abri a sua
bochecha, aquele zunido vocal agudo, contínuo e desesperado, o ar agora saía pelo
corte, e eu podia ver seus molares ensanguentados logo abaixo de seus olhos, a
carne de sua maçã-do-rosto tremia a cada suspiro. Dei-lhe um soco no olho,
próximo ao corte, nesse momento a endorfina, anestésico natural do corpo, já
deveria estar agindo fazendo-o não sentir tanta dor, porém minha força é maior e
o pirralho desmaiou.
Saí do quarto, arrastei uma mesa que estava jogada na
garagem para a rua.
Acendi umas velas, pretas e vermelhas, e preparo um
altar.
Voltei pra buscar o pivete, forcei a porta e estava
trancada.
Não é que o desgraçado tentou me enganar?
Eu batia na porta e gritava "Abre isso daqui seu
filho da puta! Eu vou te matar desgraçado!”.
Eu ouvia o choro da criança clamando por sua mãe, o
soluçar, eu podia sentir o medo do outro lado da porta.
Comecei então a chutar a porta, meu irmão preso no quarto
ficava ainda mais em desespero.
Fiz silêncio, o soluçar dele ficou mais baixo.
Eu ainda o ouvia soluçar, morávamos em um sítio, o
silêncio predominava nas noites.
O surpreendi jogando uma pedra na janela, os estilhaços
saltaram em seu rosto e ele correu pra debaixo da cama.
Puxei-o pela perna enquanto ele tentava ainda rastejar
para o refúgio ineficiente.
Aquele exato momento em que ele me olhou, se eu pudesse
parar o tempo e descrevê-lo.
O olhar daquela criança com cacos de vidro grudados em
sua face, com destaque a dois presos nas pálpebras, deveria ter um centímetro
cada, e refletia a luz da lua neles.
Eu sentia a tensão como se fosse o predador e a presa,
naquela fração de segundo, eu senti que sua expressão clamava por misericórdia,
a inocência e o instinto de sobrevivência.
Tão logo que o puxei pela perna já cortei o seu
tendão-de-Aquiles, no impulso ele ainda conseguiu ficar de pé, somente sobre
uma perna. Com meu ímpeto cruel cortei logo o outro fazendo aquele pequeno
corpo cair ao chão. Ao cair com o queixo naquele assoalho de madeira ele tentou
continuar rastejando. Maldito! Rastejava feito um verme tentando escapar da
morte inevitável. Prontamente enfiei a faca em seu ombro, fiz um corte
transversal que deixou o osso exposto. Calculoso
repeti o processo no outro ombro, fazendo com que o desgraçado não fugisse mais.
repeti o processo no outro ombro, fazendo com que o desgraçado não fugisse mais.
Mas a lição eu tinha guardado ainda. Eu iria ensinar ele
a nunca mais fugir de mim, agora ele iria me obedecer e ter bons modos. Virei
ele de barriga para cima e cortei os nervos das dobras do braço e do pulso. Pus
a ponta da faca em seu pescoço, novamente sem machucá-lo e com um golpe de
fúria rasguei a parte de cima do pijama da criança, branco com ursos marrons,
alguns ainda apareciam, outros o sangue já cobria deixando àquela vestimenta
tão inocente e infantil um toque macabro e violento. Desci e cheguei com a faca
em seu umbigo, eu estava adorando tudo aquilo, fui próximo a sua pélvis e
enfiei a faca, rompo com a lâmina as terminações nervosas da perna, ali, ensanguentado
e impotente ele não fugiria mais de mim. Criança desgraçada, não parava de
gritar.
Fui à garagem e achei o que eu queria. Meu falecido pai
tinha agulha e linha pra suturação guardadas em um armário, ocasionalmente ele
usava para algum animal que se feria. Agora sim ele iria calar a boca!
Voltei ao quarto, ponho a linha na agulha, vou costurando
calmamente a boca do meu irmão enquanto eu ainda cantava “Bonde da Mutilação”,
a doce canção da UDR era como um réquiem sarcástico. Eu via a ponta da agulha
furar o lábio deixando uma linha de rastro por onde ela passava, atentamente
dei o nó para não abrir a costura, aquele desgraçado já não ia gritar mais.
Estirado no chão, fui puxando ele pelos cabelos castanhos até a sala, ele
inerte, sem poder pedir ajuda, com as pálpebras sangrando, havia sangue seco
por toda a face, mas ainda saía o líquido vital de onde eu tinha feito a
suturação.
Voltei ao quarto dos meus pais, vi o massacre que eu causei
o rosto desfigurado de minha mãe e o peito todo perfurado de meu pai. Sangrou
como um porco!
Arrastei os dois para fora, e coloquei-os sobre o altar
preparado.
Voltei na garagem, peguei uns pregos e o martelo, fui à
cozinha e peguei uma vasilha, então retornei a sala onde meu irmão me esperava.
Coloquei-o sentado na poltrona, e para que dali não saísse preguei-o ali,
comecei pelos dedos, pregando-os nos braços da poltrona, na verdade, preguei
até os ombros dele. Depois peguei a faca, furei o coração dele e aparei todo o
sangue com a vasilha, ou o que restava, acabava de ser imolado para o meu
ritual. Fui para a rua e voltei ao altar e coloquei os corpos dos meus pais sobre
ele, os corpos um sobre o outro, enquanto eu orava: “Apo Pantoz Kakodaimonoz”,
banhei meu punhal no sangue do meu irmão e pus a vasilha sobre o altar
improvisado “Apo Pantoz Kakodaimonoz” e faço uma cruz invertida na minha testa
com o punhal.
Sim, eu preparei pra você, o sangue de um jovem puro e
inocente, morreu sabendo o que é o medo. Bebi o sangue e ungi minha cabeça.
Ateei fogo no corpo dos meus pais sobre o altar e os vi queimar diante dos meus
olhos. As chamas crepitando e eu vendo o gordura derreter, o cheiro de carne
assada que adentrava minhas narinas, e aquela velha mesa de jacarandá queimando
lentamente, me sentindo lisonjeado de que o meu Senhor proporcionou-me tal
cena, sentia-me um sádico, estava tendo prazer em ver tudo aquilo. Peguei a
cinza dos meus pais e guardei-as em um pequeno pote, assim da próxima vez que
eu fumasse eu teria cinza já. Fiquei observando até os policiais chegarem pela
manhã, queria ter visto a hora em que abriram a porta e se depararam com o meu
irmão morto, tinha deixado ele propositalmente na sala virado para a porta de
entrada da casa, devem ter sentido terror do massacre, a energia negativa no
ar.
A partir desse dia, as pedras que eu fumo tem sabor de
morte. Foram dez reais de pedra, cinzas mortuárias e uma matança desenfreada.
Ps: Primeira postagem de 2014, pra tirar as teias
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