sexta-feira, 5 de novembro de 2010

De Volta ao Front - Uma Rotina Alemã



Chegaram em Kiev sob o silêncio envenenado da guerra. Não vinham como soldados — vinham como carrascos de uniforme, treinados não para lutar, mas para exterminar. Seus rostos carregavam a frieza de quem já abdicou da consciência. Eram parte dos Einsatzgruppen, especialistas em eliminar o que o regime considerava "indesejável".

Na manhã seguinte, os caminhões deixaram o gueto carregando três mil judeus. Famílias inteiras: pais, mães, crianças, recém-nascidos — todos transportados como gado rumo à floresta. Lá, um dos oficiais leu uma carta assinada por Himmler. Falava sobre a “honra” de limpar o sangue alemão, sobre “vassouras de ferro” e “sapos venenosos no berço”. Era um ritual grotesco de fanatismo.

Depois da leitura, a ordem foi dada. Tirem as roupas. Dez por vez. Ao som de gritos, tiros e choros, os corpos foram alinhados no chão. O buraco coletivo não tinha fim — nem dignidade. Alguns hesitavam. Outros atiravam com prazer. E havia os que tremiam, mas obedeciam. Porque desobedecer, ali, era morrer junto.

As crianças... essas foram as mais difíceis, diziam alguns em voz baixa. Mas logo voltavam ao trabalho. Ao fim do dia, com as roupas ensanguentadas, receberam charutos e vodka como prêmio pela lealdade. A floresta silenciou de novo, agora sob a terra revolvida por ossos.

E o oficial, de volta ao alojamento, escreveu em seu diário. Sem remorso. Sem culpa. Apenas a certeza de que havia cumprido seu papel na engrenagem da morte.

E amanhã, ele escreverá mais — porque o horror ainda não terminou

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